Eu e Meu Duplo

 

Já te perguntaste

Quem é o teu duplo?

Sim! Todos temos nossos duplos.

Alguns até mesmo seus múltiplos.

E não é crise de identidade,

É crise de duplicidade, de multiplicidade.

Como vem teu duplo?

Não falo de tua sombra.

Vem ele em espectros plásticos inacabados,

Ou em efígies fluídas, inefáveis,

Que jamais vêm em palavras?

Já te perguntaste porque

Teu duplo sempre impreca para não ser?

Se teu duplo és o outro,

Há outro que não és para ser.

Duplicado e uno,

Das conversas

Nos mais profundos silêncios,

Da alma em vastidão.

Duplicado e uno,

Das pausas da razão

Nos passos lentos do peito,

E nas coragens e imprevidências do coração.

Escutas os passos lentos em teu peito?

Se não escutas não há nada a ser.

Se escutas estás duplicado,

Duplicado e multiplicado a morrer.

Se estás duplicado,

Estás duplicado em teus beijos embriagados

Numa luz irresponsável,

Que só brilha às seis da manhã,

Em matinas que jamais deveriam

Se desfazer em vésperas sem paixões.

 

Ijuí, 19∕03∕2013.